Os Triglicerídeos de Cadeia Média (TCM) possuem “1001” funcionalidades, mas vou me limitar a falar sobre os seus benefícios na minha área de atuação (pediatria), prática clínica e estudos.
É a minha escolha número 1, quando pensamos em custo benefício, segurança e efeitos colaterais, que são muito baixinhos, quando utilizado em % individualizadas.
Sobre a sua composição: constituído por 50-75% de ácido caprílico (C8) e 20-45% de cáprico (C10). O TCM NÃO é a mesma coisa que óleo de coco – composições diferentes, bem como ações no organismo.
É uma fonte de lipídeo bastante difundida e utilizada há aproximadamente 50 décadas (há artigos científicos em pediatria desde os anos 80-90).
Em quais circunstâncias pode ser interessante o uso dos TCM?
Epilepsia de difícil controle:
O tipo de dieta cetogênica, com fontes de gordura provenientes dos TCM (DC-TCM) pode ser considerada em situações em que a criança não responde ao tratamento convencional, quando há diversas substituições e combinações medicamentosas diferentes, sem sucesso. O mecanismo da dietoterapia é utilizar a gordura como principal fonte de energia ao invés dos carboidratos, o que parece ter um efeito benéfico para pacientes com crises convulsivas difíceis de manejar. (em um outro post, posso abordar sobre a dieta em si).
Atuação neuroprotetora:
Em doenças neurológicas de base, e até mesmo em bebês e crianças com atraso no desenvolvimento global, os TCM têm sido utilizados para reduzir a hiperexcitabilidade e inflamação dos neurônios, tanto de forma preventiva, quanto em danos cerebrais já existentes.
Quilotórax:
É a causa mais comum de derrame pleural quiloso em recém nascidos, pode ser pela presença de síndromes, más formações congênitas, pós correções cirúrgicas, como a cardiopatia, por exemplo. O volume do quilo torna-se mais abundante também com o consumo de triglicerídeos de cadeia longa (TCL), e por isso, como parte das estratégias dietéticas em um tratamento conservador são utilizados os TCM por um período de 6-8 semanas, já que possuem absorção direta na circulação sistêmica.
Digestibilidade no Trato Gastrointestinal (TGI):
Devido à metabolização no fígado mais rápida e eficiente, os sintomas de distensão abdominal, flatulências, pirose e empachamento podem ser amenizadas, o que se torna uma excelente fonte de gorduras para pacientes com desordens de digestão e absorção de nutrientes. Usualmente utilizados na Doença de Crohn, Retocolite Ulcerativa, Síndrome do Intestino Curto e Doença Celíaca.
Absorção de nutrientes:
Principalmente das vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K), essenciais para o crescimento ósseo adequado das crianças, saúde cardiovascular, além de ação antioxidante.
Baixo peso/desnutrição:
Por apresentar elevada densidade energética (1g TCM – 9 kcal) em comparação aos outros macronutrientes é possível aumentar o aporte calórico da dieta em menor volume, incorporar no plano alimentar sem alterações de paladar, o que se torna também mais tolerável para a maioria dos bebês e crianças. Adiciono desde à fórmula infantil (1-5%, normalmente) até formulações manipuladas via GTT.
Referências
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Fernando WM, et al. The role of dietary coconut for the prevention and treatment of Alzheimer’s disease: potential mechanisms of action British Journal of Nutrition. 2015; 114: 1-14.
MONTEIRO CP, LIMA GS, et al. Aspectos nutricionais em pacientes com quilotórax em tratamento conservador em dieta enteral. Nutr Clín Diet Hosp. 2022; 42(3):160-164.
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Torrinhas RSMM, Campos LN, et al. Gorduras: Nutrição Oral, Enteral e Parenteral na Prática Clínica. 2009.