Quantos doces cabem nas mãos pequeninas das crianças?

Gosto do conceito de usar as mãozinhas das crianças para observarmos de forma mais tangível que o que cabe naquela mão pequenina não se assemelha às mãos de um adulto. Já é unânime pela Organização Mundial da Saúde, Ministério da Saúde e Sociedade Brasileira de Pediatra sobre a introdução do açúcar após os 2 anos de idade. Mas o que eu realmente gostaria de trazer com este post é sobre o DIFERENTE, sobre comportamentos alimentares que fogem do padrão.
Portrait of a little surprised girl with curly hair, and two mouth-watering donuts in her hands, closes her eyes with donuts, on a pink background

Será que faz tão mal assim a introdução precoce de alimentos ricos em açúcares?

 

Gosto do conceito de usar as mãozinhas das crianças para observarmos de forma mais tangível que o que cabe naquela mão pequenina não se assemelha às mãos de um adulto.

 

Não estou aqui para falar de porções, mas só para termos uma ideia concreta do quanto as crianças podem ter essa ou aquela relação com os alimentos, a depender também da forma e quantidade em que são apresentados.

 

Já é unânime pela Organização Mundial da Saúde, Ministério da Saúde e Sociedade Brasileira de Pediatra sobre a introdução do açúcar após os 2 anos de idade. Há muitos e muitos pesquisadores se debruçando sobre o tema aos longos dos anos e há diversos motivos para tal orientação: obesidade infantil; aumento da prevalência de diabetes e hipertrigliceridemia; alterações no intestino – diarreia/constipação (mudanças na flora intestinal e alterações na imunidade), etc…

 

Mas o que eu realmente gostaria de trazer com este post é sobre o DIFERENTE, sobre comportamentos alimentares que fogem do padrão.

 

A realidade pode não ser válida para todas as crianças, e pelo simples fato de que as crianças não são iguais.

 

Quando falamos de crianças com atraso no desenvolvimento e/ou neurodivergentes, entendemos que poderá também haver uma repercussão na introdução alimentar e nos hábitos estabelecidos ao longo da vidinha deles.

 

Por exemplo, uma criança com 3 anos de idade, que apresenta uma importante recusa alimentar, que ainda não houve a introdução de todos os grupos alimentares ou apresenta mudança na consistência da dieta, por diversas razões: Será que é o momento de introduzir alimentos ricos em açúcares e ultraprocessados, no geral? O início da introdução alimentar, que normalmente acontece aos 6 meses de vida, pode não ser uma realidade para todas as famílias. E por isso, precisamos fortemente fazer algumas considerações, sair da caixinha e personalizar nossas condutas o máximo possível, porque isso fará diferença na relação com a qual a criança terá com os alimentos à médio e longo prazo.

 

O cérebro está em formação. Os hábitos alimentares também. E se não há um hábito alimentar estabelecido, o consumo de açúcar e guloseimas no geral, não só atrapalham a aceitação para os alimentos in natura (frutas, legumes e verduras), como também estimulam as papilas gustativas na busca por alimentos mais palatáveis (ricos em açúcares, sódio e gorduras). Estimula o cérebro a buscar prazer nesses alimentos, desde muito cedo.

 

O número de crianças seletivas tem aumentado significativamente. Não há um dia se quer que eu não receba uma criança “diagnosticada” com seletividade alimentar, seja neuroatípica ou não. E em muitos casos, está simplesmente em COMO os alimentos tem sido apresentados, em COMO é a relação da família com a alimentação e o quanto os alimentos são modificados para apresentarem-se mais palatáveis, e consequentemente, aceitos.

 

Um morango do verão não é igual ao morango do inverno. É importante as crianças aprenderem desde cedo sobre os nuances dos sabores: mais azedo, mais docinho. Não precisa adicionar açúcar ou leite condensado. Está tudo bem também se ela não gostar de morango, tá bom?!

 

Assim como um biscoito recheado comprado agora ou no ano que vem. Exatamente o mesmo sabor, não é mesmo?! Muito mais fácil para o cérebro se adaptar, ainda mais aquele cérebro que estamos falando, que está em formação, e que já por si só deseja estabelecer determinado padrão. Seja por uma real dificuldade alimentar, seja por uma exposição precoce.

 

Mas independentemente da situação, fique tranquilo (a), se por um caso você já introduziu esses alimentos, e em muitas e muitas vezes, na tentativa de estimular que criança coma algo, qualquer coisa, há solução. O cérebro está em formação, lembra?!

 

Seja com 2 ou 3 anos, o importante é termos cautela e entender o momento da família e da criança para que todos os alimentos sejam introduzidos, não só no melhor momento, como também de maneira equilibrada. ❤️

 

 

 

Referências

Brasil. Ministério da Saúde. Dez passos para uma alimentação saudável: guia alimentar para crianças menores de dois anos: um guia para o profissional de saúde na atenção básica. 2ª ed., 3ª reimpr. Brasília: Ministério da Saúde; 2016.

Murray RD. Savoring Sweet: Sugars in Infant and Toddler Feeding. Ann Nutr Metab. 2017; 70 (3):38-46.

Nogueira JMG, Costa AM, et al. Primeira infância sem açúcar: um direito a ser conquistado. Cad. Ibero-amer. Dir. Sanit. 2020; 9(4).

World Health Organization (WHO). Guideline: Sugars intake for adults and children. 2015.

 

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Nathália Sorrini Fujita

Nutricionista Neuropediatra e Escritora

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