Todas as crianças com Paralisia Cerebral evoluem para o uso da GTT (gastrostomia)?

Não é uma decisão fácil, mas se torna mais digerível a partir do momento que entendemos os porquês. Gostaria de começar dizendo para ficar tranquilo (a), pois JAMAIS uma indicação dessas será feita sem critérios bem definidos, sem que realmente haja necessidade.
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Essa é sem dúvidas, uma das perguntas mais frequentes nos meus atendimentos. As incertezas do dia de amanhã. O imaginar de como será/seria se o seu filho (a) não pudesse mais se alimentar (somente) pela boca ou se não pudesse degustar mais daquela refeição preferida que só você sabe preparar, que traz memórias afetivas e conectam vocês também.

 

Não é uma decisão fácil, mas se torna mais digerível a partir do momento que entendemos os porquês. Gostaria de começar dizendo para ficar tranquilo (a), pois JAMAIS uma indicação dessas será feita sem critérios bem definidos, sem que realmente haja necessidade. 

 

De forma resumida, se a criança com paralisia cerebral (PC) já possui indicação de modificação da consistência da dieta (normalmente pastosa homogênea), e ainda assim apresenta algumas dificuldades, como:

 

1- Longos períodos para se alimentar (estudos mostram que pode levar até 7h para alimentar uma criança com PC) e desgaste emocional dos familiares durante as refeições;

 

2- Sinais de desconfortos antes, durante ou após as refeições (fadiga, falta de ar, tosse, suor, irritabilidade);

 

3- Engasgos frequentes, mesmo com líquidos espessados e consistência modificada;

 

4- Regurgitação, náuseas e vômitos;

 

5- Pneumonias de repetição/broncoaspiração de alimentos.

 

E além disso…

 

Alguns fatores nutricionais interferentes na decisão a favor da GTT

 

1- Desnutrição crônica e baixo ganho ponderal, mesmo com a inclusão de suplementação hipercalórica/hiperproteica;

 

2- Constipação grave (uso frequente de laxantes e supositório), não somente pelas anormalidades na motilidade gastrointestinal e uso de anticonvulsivantes (comuns e esperadas na PC), mas por NÃO apresentar ingestões hídrica e dietética adequadas para faixa etária (dificuldades na oferta, principalmente);

 

3- Baixa tolerância às modificações na dieta e recusa alimentar importante, até com presença de seletividade alimentar;

 

5- Deficiências de nutrientes (até 50% das crianças com PC apresentam déficits de cálcio, ferro, zinco, vitamina D e E, por exemplo);

 

6- Desempenho aquém do esperado nas terapias realizadas.

 

Todas as situações acima são levadas em consideração, e de todas as formas possíveis são realizadas tentativas de correções para manutenção da alimentação via oral (nem que seja complementar à GTT), DESDE QUE preserve o que há de mais importante: SEGURANÇA, SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA para a criança, e também cuidadores.

 

Confie de VERDADE na equipe (pediatra, neurologista, fonoaudiólogo, nutricionista, otorrino…) que o acompanha, pois se em algum momento houver essa indicação (não serão para todas as crianças), se sentirá mais confortável e seguro para tomar uma decisão conjunta. 

 

 

 

Referências

Costa WM, Nascimento GKB. Análise da mastigação e deglutição na paralisia cerebral com deficiência visual: estudo de caso. Distúrb Comum. 2021; 33(2): 204-212.

Menezes EC, Santos FAH, et al. Disfagia na paralisia cerebral: uma revisão sistemática. Rev. CEFAC. 2017; 19(4):565-574.

Mota MA, Silveira CRM, et al. Crianças com paralisia cerebral: como podemos avaliar e manejar seus aspectos nutricionais. International Journal of Nutrology. 2013; 6(2):60-68.

Petry IL, Soares LG, Prezotto KH, et al. Vivências de cuidadores de crianças com paralisia cerebral sobre a utilizaçãode gastrostomia. Rev Enferm Atenção Saúde. 2023; 12(3).

Santos HCC, Lima AR, et al. Avaliação nutricional de portadores de paralisia cerebral assistidos por um hospital filantrópico pediátrico em Salvador – BA. BRASPEN Journal. 2019; 34 (2): 145-150.

Silva DCG, Cunha MSB, et al. Intervenções nutricionais em crianças e adolescentes com paralisia cerebral: revisão sistemática.  Rev. paul. pediatr.2024; 42.

Teles MM, Oliveira LM. Cerebral Palsy and nutritional screening tools, an integrative literature review. Research, Society and Development. 2024; 13 (10).

 

 

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Nathália Sorrini Fujita

Nutricionista Neuropediatra e Escritora

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