O transtorno do espectro autista (TEA) é descrito como alterações complexas no desenvolvimento neurológico, as quais acarretam em prejuízos, sobretudo funcionais, de ordem multifatorial.
A prevalência do TEA é de uma em cada 160 crianças, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), sendo que pode ser até 4x mais frequente no sexo masculino. Normalmente, o início dos sintomas ocorre anteriormente aos 3 anos de idade, sendo de extrema importância o rastreio precoce de crianças entre 6 a 24 meses, já que os níveis de comprometimento neurológico podem apresentar-se de distintas formas.
Há um consenso na literatura como características preponderantes, a presença de déficits na comunicação e interação social, hipo ou hiper-
reatividade a estímulos oferecidos, padrões comportamentais, com traços restritos e repetidos.
Além disso, não é incomum depara-se com atraso e/ou regressão motora, epilepsia, distúrbios do sono, anormalidades imunológicas, sensoriais e gastrointestinais. Sendo que, estas últimas costumam ser quatro vezes mais prevalentes em crianças com TEA.
Apesar de a sua etiologia permanecer desconhecida e exames laboratoriais serem apenas sugestivos, até o momento, para realização do diagnóstico, estudos têm cada vez mais revelado que os fatores ambientais, psicossociais e biológicos podem influenciar significativamente na sintomatologia e desfecho apresentados por essas crianças.
Para a realização do diagnóstico é preciso considerar a presença de manifestações comportamentais, investigadas à partir de anamnese clínica detalhada sobre a rotina e estereotipias apresentadas pela criança, sendo, referencialmente, realizada em consulta com pediatra, por meio da utilização de ferramentas de rastreio, como por exemplo, Modified Checklist for Autism in Toddlers (M-CHAT), a qual se tornou obrigatória através da Lei nº 13.438, de 26 de abril de 2017, para crianças entre 16-30 meses, e presente na 3ª edição da caderneta da criança.
Hoje é um dia importante. Dia Mundial de Conscientização do Autismo. Dia também para refletir sobre o quanto é fundamental a intervenção precoce (minha área de atuação), o quanto pode ser um divisor de águas nas vidas dessas famílias.
Quando uma criança é diagnosticada com TEA, muitas vezes tudo passa a girar em torno disso. Como se fosse só o que ela representa. Uma criança JAMAIS poderá ser resumida em um diagnóstico. Ela É e merece muito mais. Mais oportunidades, mais vivências, mais acolhimento, mais respeito.
Dito isso, meu desejo não só para esse dia, é que possamos sempre buscar o melhor dentro dos nossos corações (pessoal e profissional) para proporcionar tudo o que essas famílias precisam.
Referências
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DOUBRAWA D, MENEZES KAS. Importância do diagnóstico precoce do autismo: uma revisão de literatura. Brazilian Journal of Development.2023; 9(6): 19884–19892.
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