Será que faz diferença a suplementação nas crianças com T21? (Síndrome de Down – nomenclatura antiga).
Essa é uma pergunta frequente na minha prática clínica. Atendo bebês, crianças e adolescentes com T21 desde a minha época da residência e a minha resposta é: SIM.
Do nascimento à introdução alimentar. Da introdução alimentar ao acompanhamento nutricional mais longevo, os pacientes com T21 têm apresentado respostas bastante satisfatórias, quando a suplementação é utilizada de forma personalizada, ou seja, com critérios, parcimônia e atenção às demandas específicas de cada bebê/criança.
Além do mais, deverá estar aderente ao contexto familiar, e preferencialmente, APÓS os ajustes realizados no plano alimentar, a fim de potencializar os resultados.
Mas vamos para alguns exemplos que possam necessitar de intervenção nutricional especializada:
– Cardiopatias congênitas;
– Hipotireoidismo e Tireoidite de Hashimoto;
– Diabetes tipo 1;
– Alterações gastrointestinais (diarreia, constipação, flatulências, distensão abdominal);
– Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE);
– Intolerância à lactose;
– Doença celíaca;
– Bruxismo;
– Infecções de repetição (bronquite, asma, pneumonia, amigdalite, otite);
– Obesidade/Desnutrição;
– Recusa Alimentar/ Hiperfagia (comer exagerado e sem controle);
– Anemia.
Será que o seu filho (a) se encontra em alguma delas?!
Há diversas explicações científicas para que essas desordens ocorram e são bastante comuns, chegando à 70% das otites de repetição; 50% cardiopatias congênitas; 18% hipotireoidismo e 10% da doença celíaca.
Crianças com T21 também podem apresentar outras alterações/mutações na expressão dos genes (micro RNA-155, RCAN1, DRK1A, ROS, APP, NRF2), com impacto significativo na metilação de proteínas e repercussão na aprendizagem e desenvolvimento neurológico, por exemplo.
Assim como menor tamanho do timo, reduzida produção de linfócitos ou anormalidades gastrointestinais, também estão diretamente relacionadas com a imunidade. Imunidade baixa gera uma cascata de outras consequências prejudiciais ao desenvolvimento global.
Dessa forma, mesmo quando PARECE que está tudo certo e não há nenhuma das condições citadas acima, vale realizar um check up nutricional, pois não é porque não estamos vendo, que não está acontecendo.
As famílias dos meus pacientes com T21 já sabem…Não dou alta, e sim monitoro de tempos em tempos =). Se não for possível agirmos de forma preventiva, que seja o mais precoce possível.
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes de Atenção à Pessoa com Síndrome de Down. Brasília – DF. 2013.
Gensous N, et al. Down syndrome, accelerated aging and immunosenescence. Semin Immunopathol. 2020; 42(5): 635-645.
Oliveira LA, Sica CA. Educação alimentar e nutricional em portadores de Síndrome de Down: uma revisão de literatura. Revista Da Associação Brasileira De Nutrição – RASBRAN. 2023; 14(1): 1–15.
Oliveira LS, Rodrigues MLSL, et al. ANÁLISE DOS FATORES GENÉTICOS NA SÍNDROME DE DOWN: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DE LITERATURA. Revista Ibero-Americana De Humanidades, Ciências E Educação. 2023; 9(10): 1496–1511.
Serrano JLO, Kang HJ, Tyler WA, et al. Down Syndrome Developmental Brain Transcriptome Reveals Defective Oligodendrocyte Differentiation and Myelination. Neuron. 2016; 89(6): 1208-1222.